Canto da Alma - Poemas e Sons

sábado, 18 de março de 2006

 

Metade


Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza
Que o homem que amo seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida, a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a uma mulher inundada de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço a outra metade é o que calo.
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso, a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflicta meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria p'ra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo a outra metade é cansaço.
Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar, pois é preciso simplicidade p'ra fazê-la florescer
Porque metade de mim é plateia a outra metade é canção.
Que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor
e a outra metade também

Oswaldo Montenegro


Colocado por mysticdune   3/18/2006